Usarei o poema escrito por Carlos Drumond de Andrade, publicado em seu livro “Sentimento de Mundo”,em 1940, musicado e gravado pelo cantor Paulo Diniz, para tentar entender o que estão fazendo com os óculos da estátua do poeta, em bronze, magistralmente sentada em um dos bancos da praia de Copacabana.
O vandalismo precisa ser tratado como crime, um caso de polícia e deixar de ser apenas uma contravenção para todos os que destroem o patrimônio público, maiores ou menores, pois não mais um puro e simples de vandalismo.
Aos pichadores devem ser oferecidas oportunidades sociais para torná-los profissionais capazes de se inserir no mercado de trabalho e, para os pichadores, destruidores do patrimônio publico, criada uma lei específica para tratá-los como como criminosos, com penas elevadas e agravadas quando se tratar de destruição da coisa alheia que deverá a pessoa que sofreu o dano ser ressarcida, ou pública, quando ser preso. Afinal, o dinheiro público é de todos, menos desses vândalos que destroem por pura diversão ou prazer.
Estou revoltado e, com seu poema, "E Agora, José", modificado por mim com licença poética, como meu protesto contra o vandalismo, meu poeta Drumond:
“E agora, Drumond?/A festa acabou,/a luz apagou,/o povo sumiu/a noite esfriou,/e agora Drumond? E agora, você Drumond,/você que tem nome, Drumond/que não mais zomba dos outros/você que fazia versos/que amava e protestava,/E agora, Drumond?/Está sem óculos pela sétima vez/não pode beber,/(e você bebia, Drumond?)/já não pode fumar (e você fumava Drumond?),/já não pode cuspir/a noite esfriou (ainda bem que não lhe destruíram a sua roupa!)/O dia veio mas Drumond, você não o enxergou porque lhe destruíram os óculos mais uma vez/a utopia também veio e nada acabou porque continuam lhe destruindo seus óculos, Drumond e nada mofou, nem os vândalos/E agora, Drumond?/E agora, Drumond?/Sua doce palavra,/seu instante de febre/sua incoerência (e você tinha alguma incoerência, Drumond?),/sua gula em jejum,/sua biblioteca que não poderá lê-la porque sem óculos o homem fica cego para o mundo exterior/sua lavra de ouro,/seu terno de bronze/sua incoerência (já lhe perguntei sobre isso e aguardo sua resposta, Drumond!),/e seu ódio – e agora Drumond?/ Com a chave na mão/quer abrir a porta,/existe porta sim, Drumond/, mas você, meu poeta, não pode vê-la porque lhe destruíram os seus óculos de novo/quer morrer no mar/e talvez consiga morrer afogado porque não está vendo nada meu poeta/o mar não secou, mas você, sem os óculos, não pode mais vê-lo/quer ir para Minas, talvez para sua cidade onde não existe uma estátua sua, de bronze/Se você gritasse,/se você gemesse,/se você tocasse/a valsa vienense para os vândalos,/talvez não mais lhe destruíssem os óculos/também não morresse aos poucos/Mas Drumond não morre/Você é duro, Drumond!/Sozinho e sem óculos no escuro/qual bicho-do-mato, indigente,/sem teogonia, (do grego Theogonia, a “Genealogia dos Deuses”, poema mitológico publicado em 1022, escrito no século XIIII a.C, no qual o narrador é o próprio poeta, no caso, o Drumond,)/sem parede nua/para se encostar/sem cavalo preto/você marcha, Drumond!/Drumond, para onde você marchará agora sem seus óculos? E agora, Drumond?”