Com a alegria de um menino que não entendia nada, via o rolo compactador colocando um manto negro igual à noite, em cima de uma terra antes vermelha como o sangue que corria nas veias de um garoto observador, achando que o progresso estava chegando, mas desconhecendo que também causaria destruição de locais que amava e adorava brincar.
A poeira da rua que receberia depois seu manto negro prejudicava casas de moradores e criava dificuldades de respiração até para o gado confinado no frigorífico Bordon, que existiu no local, onde muitas vezes furtei cajus enganando o vigia.
Eu assistia e admirava aquele monte de tratores e carros pipas do Departamento Estadual de Estradas de Rodagens – DERAM – para cima e para baixo, molhando a rua, derramando piche e amassando um manto negro em cima de uma brita que antecedia a todas essas etapas que viriam depois. Para onde foram todas esses equipamentos, inclusive o DERAM?
A Avenida Costa e Silva, de onde observava as máquinas em movimento, recebeu esse nome em homenagem a um dos generais que comandou os destinos do Brasil pós-64, período difícil na história, mas, ao mesmo tempo, retirou o Estado da incômoda posiçã de atraso com o fim do período do látex e antes implantação do modelo ZFM, aprovado dez anos antes.
Só não sabia que a destruição de belíssimos balneários e igarapés, que cortavam a cidade, viria junto com o progresso, transformando tudo em lucro e em especulação imobiliária necessárias, contudo destruindo meus sonhos infantis!
Era os anos 70 em Manaus e o progresso chegava rápido, com pressa, fazendo com que a cidade se transformasse em um verdadeiro canteiro de obras, com a abertura de ruas para todos os lados. Com tristeza, recebi o progresso, mas desconhecia seus resultados, destruindo meus recantos de beleza, com banhos nos igarapés serpenteavam em cada curva como se fosse uma cobra.
Depois de a rua ter sido coberta por uma negra cor de noite, os sonhos infantis de continuar me divertindo nas ruas de minha adolescência se foram; carros fuscas apareceram e tudo ficou mais perigoso. Pararam os jogos de bola com o nosso tradicional “gol das seis”, quando valia tudo na disputa pela bola. Ah, progresso malvado, destruidor de sonhos e ilusões!
Hoje, o que vejo são obras que destruíram os sonhos que ainda desejava revivê-los, mas os igarapés estão poluídos,o lixo emerge com a enchente, balneários belíssimos, por onde corriam plácidas e brancas águas com areia branca ao fundo desapareceram, com muitos sendo aterrados ou transformados em monstrengos inúteis.
Ah, máquinas que trazem o progresso, como as odeio hoje porque também trouxe a degradação de todo um ambiente urbano transformando sonhos em pesadelos, matando e destruindo ilusões de que o progresso poderia vir aliado à preservação, o que não ocorreu, infelizmente porque a ganância e o lucro sempre falaraml mais alto!
Mas nada disso aconteceu e hoje teimo em registrar minhas frustrações e odiando tudo o que transforma um barro vermelho compactado em uma cor escura parecendo à escuridão de meus olhos que ainda vêem pouco, mas ainda vêem!