Sentia frio deitado dentro
da rede, sempre que estava assistindo a qualquer filme no qual se formasse
tempo de chuva e me embrulhava dos pés à cabeça porque pensava que, assim,
ficaria protegido. Também gostava de dormir com o barulho de chuva caindo em
cima do zinco e das palhas que cobriam nossa casa no bairro da Betânia,
pensando na casa em que moramos no “Varre-Vento”,
distrito do município de Itacoatiara.
No cinema, se assistia a filme
com chuva também, só cruzava os braços sobre o peito para disfarçar que eu
estava sentindo frio também. Os olhares sobre meu gesto eram indisfarçáveis. “Será
que esse rapaz está com frio mesmo?”, deviam se perguntar os que para mim
olhavam. É, estava mesmo sentindo frio, só que ninguém poderia saber, por isso
cruzava apenas os braços por falta de cobertas no cinema, como existem em
aviões.
A selva que via em filmes
de Tarzan ou em qualquer outro que assistia com o mesmo cenário, lembrava-me do
sítio em que residi em “Varre-Vento” por onde gostava de correr por baixo das
árvores em meio a chuva, ouvindo os gritos de minha “menino, sai da
chuva, você vai ficar doente”. E eu lá queria saber de atender minha mãe,
queria era correr, me divertir sozinho
ou com os irmãos que em algumas vezes apreciavam minhas loucuras infantis e se
divertiam ao meu lado.
Muitas vezes, parava para
me deliciar com a água que escorria pela “biqueira” da casa. Diziam que a água
que caía do céu pela chuva era uma das mais limpas que podiam existir, mas
nunca bebi porque tinha medo, embora não tivesse medo de quase nada e sonhasse
com dias melhores, apenas!
Deitado na rede, assistindo
a um aparelho de televisão em preto e branco, com válvulas que demoravam a
aquecer para surgir à imagem, como se fosse mágica, imaginava minha vida, não
com frio da chuva dos filmes, não só correndo em meio aos pés de cacau nativo
de meu avô, no Varre-Vento, muito menos colhendo folhas de fumo que José
Raimundo enrolava em formato de corda e depois cortava em partes para preparar
seus “cigarros de palha” enrolados em papelinhos, ou vendo meu irmão Roberto
bebendo leite “direto da fonte”, socando o ubre da vaca como se fosse um
bezerro com raiva; mas uma bem diferente, só não esperava que fosse tomando
remédios todos os dias para combater duas infecções hospitalares ainda incuráveis
para a medicina!
Ah, como era gostoso
assistir aos filmes com chuva, sentir um frio gostoso e me embrulhar todo, dos
pés à cabeça, mesmo quando estava fazendo calor, pensando nas peripécias que
fazia quando morava no interior!
Lembranças de um tempo eternizado na memória nos fazem sorrir e pensar que a vida sempre valeu a pena!
ResponderExcluirDias de chuva pra mim é recordar quando pequena eu olhava pela janela os pingos se estatelando na vidraça... Eu ficava acompanhando cada desenho que se formava na minha mente imaginária...
Meu cordial abraço,
Yolanda