terça-feira, 17 de janeiro de 2017

HORA DA XEPA!



“Hora da xepa”, era como se dizia entre o tempo do barulho do sino tocado no mercado municipal Adolpho Lisboa, as pessoas carentes que entrando e recebendo dos feirantes ou comprando a preços baixos,  produtos que alimentariam instituições filantrópicas e ou a elas próprias! Nessa época início da década de 70, era só um menino usando calção de sacos de açúcar, com uma sandália havaiana nos pés, que vendia sacos para guardar grandes tambaquis, pescados nos rios do Amazonas. Os sacos eram de cimento virado do lado contrário e os vendia com alegria e em grande quantidade, porque tinham sido produzidos de madrugada pela minha mãe Josefa Costa. Os peixes sobre as bancas do mercado chegavam de madrugada em motores de pesca, como eram conhecidos todos os que tivessem grandes geladeiras, para armazená-los. Eles eram pescados principalmente no Rio Solimões.

O Rio Negro quase não tem peixe, carapanãs ou outros tipos de insetos; ao contrário do Solimões, que tem tudo e outros mistérios também. Em frente de Manaus, as duas águas barrentas e negras se encontram, brigam um pouco e formam o belíssimo “Encontro das Águas”.  Os dois juntos ou separados parecem mais um mar de água doce com mais de 5 kl de uma margem à outra, principalmente o Solimões, mais traiçoeiro e violento, que esconde nas profundezas de suas entranhas motores naufragados, corpos em decomposição, pertences de suas vítimas e ossos de cadáveres. Por que estou escrevendo sobre “Hora da Xepa” e divagando sobre os Rios? Ambos são de uma beleza impagável: um lindo por de sol, águas bravias em um e calmas no outro...Mas voltemos à crônica e à razão da “Hora da Xepa”.

Com a queda nos preços dos tomates na revenda, o que é ótimo para o consumidor e péssimo ao produtor rural, a cena de um trator esbagaçando-os  no campo foi revoltante. Não seria mais fácil doar a produção para instituições de caridade transformá-las em sopa que alimentariam milhões de brasileiros que ainda passam fome, ou vende-las a um preço menor, mesmo com prejuízos na lavoura, do que destruir tudo, como ocorria antes na “Hora da Xepa”, no mercado Adolpho Lisboa, em Manaus? O Brasil é o maior joga fora mais de 30 toneladas de produtos do campo. Ele desperdiça produtos do campo no transporte, no processo de embalagem e nas feiras! Era só um adolescente vendendo no mercado Adolpho Lisboa sacos produzidos de madrugada.   Na “hora da xepa”,  gostava de ouvir  os vendedores de peixe gritando “saqueiro”, o sino tocando, um burburinho de gente carente  se aglomerando na porta do mercado e entrando somente depois das 10 horas da manhã para receber doações ou comprar a um preço menor.

Todos sabiam que quando o sino parasse de tocar, fiscais da vigilância sanitária entrariam,  derramariam creolina nos os produtos  que estivessem sobre as bancas de carnes e peixes, principalmente, porque não tinham sido vendidos nem doados aos carentes  e inutilizavam tudo, por que não existia gelo.  Dentre as pessoas, se destacava um homem de paletó e gravata que se fazia acompanhar de duas outras pessoas. Era o desembargador do Tribunal de Justiça do Amazonas, André Vidal de Araújo, pessoa simples, conhecida cumprimentadíssima por pelos feirantes, criador de mais de escolas nos municípios onde atuou  e diversas instituições filantrópicas em Manaus,  inclusive a primeira Faculdade de Serviço de Manaus, a terceira mais antiga do Brasil, como registro no livro científico “O CAMINHO NÃO PERCORRIDO – A TRAJETÓRIA DOS ASSISTENTES SOCIAIS MASCULINOS EM MANAUS” (ED I. OFICIAL/2005 e  UFAM/2013)!

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