Favelas pacificadas com bandidos soltos? Não acredito! O significado de pacificar é “um ato de restabelecer a paz, restituir a paz, restabelecer a calma”. Se for esse o propósito da Polícia Militar nos morros do Rio de Janeiro, em termos práticos, conseguiu, mesmo, com ataques a tiros nas UPPs, causando a morte de uma policial feminina. Na teoria, contudo, só se pode restabelecer a paz aonde existisse guerra declarada, mas não foi o caso, apenas o Estado se mantinha ausente de suas obrigações por imposição dos chefes do tráfico!
Mas o que existia nas favelas era um Estado paralelo agindo em nome de um Estado ausente. Se os serviços do Estado não comparecem, os bandidos se estabelecem. É e sempre será assim: enquanto os traficantes não forem presos, julgados e cumprirem suas penas.
Os traficantes “pagavam contas de água, luz, telefone”, vendiam serviços de TV a cabo, botijas de gás, controlavam as Vans, ofereciam proteção aos comerciantes, ou seja, tudo o que o Estado deveria fazer e não fazia, os traficantes ofereciam.
Hoje, as favelas ainda não estão pacificadas; mas latentes, com os bandidos esperando o melhor momento para atacar e ocupar “seus” confiscadas “obrigações”,pelos serviços do Estado que finalmente passou a oferecer. Os bandidos estão se organizando para, mais uma vez, tentar ocupar seus espaços, enfrentando a polícia, atirando em viaturas e matando policiais. Em troca, impunham o terror e compravam o silêncio dos moradores.
Por isso, não acredito em “favelas pacificadas”; no máximo, em “latentes”.
Mesmo assim, turistas estrangeiros as estão visitando como nunca, desfilando pelas vielas com suas máquinas fotográficas, maravilhados com o processo de transformação, obras, ocupações pelo Estado do que antes era feito pelos traficantes. E, nessa simbiose quase perfeita, contam com a simpatia, alegria e a descontração das comunidades, até o sinal de barulho do primeiro tiro no ar para a tensão voltar e preocupar a todos, de novo!
As favelas não estão pacificadas, apenas latentes, aparentes, que não se manifesta por fora, dando a impressão de um filme de imagem fotográfica de uma foto não revelada, mas tudo muda ao sinal do primeiro tiro de fuzil ou metralhadora atingindo e matando policial militar em serviço. Tudo volta a ser como era antes: correria, preocupação, temor e pavor se propaganda entre as pacatas pessoas que residem nas favelas, vivendo sempre como estivessem em uma estrutura latente, socialmente reprimida pelo medo imposto por longos anos pela total ausência do Estado e suas ações sociais.