sábado, 7 de julho de 2012

MOINHO PARA PRODUZIR XERÉM!

Com um movimento do braço, minha mãe girava a manivela de um moinho todo em ferro fundido, preso na ponta de uma mesa qualquer, e transformava carne comum, em moída; milho, em xerém para pintos novos, castanha do Brasil em material para ser usado em bolos, coco, em leite de coco colocando água dentro  e coando tudo em um pano branco, limpo,  trocando apenas  engrenagens que se acoplavam na frente do moinho!

O que produzira, contudo, era o “xerém” ou “xarém” termo de origem árabe que significa “papas de milho”, para consumo dos pintos novos, amarelinhos, que andavam sempre atrás de suas mães e ainda não conseguiam ou não entendiam o processo de ciscarem em busca de alimentos, além do milho que lhes era servido, depois de vagarem livres, leves e soltas pelo campo.

Todo e qualquer alimento possível de ser moído, era inserido por uma boca de ferro de um moinho e minha mãe os transformava em carnes moídas; e milhos,  em xerém. Tudo o que era colocado pela boca do moinho, deslizava por uma espécie de eixo condutor, cheio de dentes que os conduzia rumo à saída, onde eram prensados, triturados no tamanho que as engrenagens permitiam, descendo tudo o que era preciso e necessário para o consumo doméstico e aparados manualmente, ainda.

No Brasil, é uma tradição na região Nordeste, especialmente em Pernambuco, servir um prato com grãos secos de milho, quebrados no pilão e cozidos com água e sal. Também é conhecido como “arroz de pobre”, preparado com leite ou acompanhado de galinha guisada ou carne assada.


O alimento surgiu com os bandeirantes e tropeiros que, em seus alojamentos que os utilizavam em um prato conhecido como “angu de milho” ou papa, preparado com outras especiarias, informam os livros.  Em outros países, como Portugal e Cabo Verde, o xerém também é considerado de importância histórica, existindo, até na Ilha de Brava, no mês de junho, uma festa para comemorar a importância do milho na cultura.

 

Independentemente das designações, o que quero destacar nessa crônica é a paciência que minha mãe tinha ao escolher cada parte da frente do moinho, para cada tipo de produto que desejava moer: milho triturado para pintos pequenos – xerém fininho, para os recém nascidos, milho um pouco maiores para os frangos ou milho inteiro para as galinhas ou galos; ou carne, castanha ou coco.

 

Costumava trocar a parte da frente do moinho quando pretendia moer carne sempre que meu pai sacrificava um touro ou uma vaca para alimentar a família, na falta de peixe. Era raro ele fazer isso porque sempre existia peixe nos rios e lagos.  Girava muitas vezes por dia o moinho, dependendo da necessidade, mas sempre existia xerém para pintos guardados em potes de vidros hermeticamente fechados.

 

Talvez por isso, minha mãe tivesse tanta força no braço quando o para corrigir alguns dos muitos filhos que não se comportavam como tinha que ser.