quinta-feira, 26 de julho de 2012

QUANTO VALE UMA VIDA EM ALAGOAS?

A enfermeira Janaina Lucena, chorando e dizendo que estava só querendo cumprir o Código de Ética de Enfermagem e de Medicina, a médica pediatra Valtenice Veloso desabafando e sentindo-se triste porque uma paciente estava abortando e ela constatava recém-nascido sendo amamentado com um grande potencial de risco e de contaminação, no corredor e, ainda, testemunhando, gestantes recebendo procedimentos de parto no chão da maternidade, além  de mães com recém-nascidos deitadas em colchonetes demonstrando claramente como o Brasil Carinhoso, programa implantado pelo Governo Federal de combate à pobreza absoluta na primeira infância,  não está dando  e atenção às crianças que só desejam nascer felizes, apesar de todas as propagandas do Governo Federal de forma positiva.

Como se não bastasse o descaso, dos 323 leitos do SUS em Maceió, muitos ficam fechados nos finais de semana, sobrecarregando a maternidade Santa Mônica, onde as mães têm filhos no chão, sem nenhum auxílio médico. Para piorar um pouco mais esse quadro, os técnicos administrativos do hospital Universitário entraram em greve, diminuindo ainda mais os leitos. Acrescentando mais um ingrediente ao caos, o Conselho Federal de Medicina proibiu o parto domiciliar e garantiu que o médico ou enfermeira que praticá-lo em casa, será punido severamente.

O Projeto Cegonha, que objetiva ampliar o acesso, acolhimento e melhoria da qualidade do pré-natal, propondo transporte tanto para o pré-natal quanto para o parto e a vinculação da gestante à unidade de referência para assistência ao parto para que não peregrine em busca de vaga sempre para a mãe e o bebê, parece que ainda não chegou a Alagoas. Se chegasse, enfermeiras e medicas não se desesperariam e nem chorariam peles corredores das maternidades, trabalhando de forma estressada porque “ninguém gosta de perder uma vida”.

Das sete maternidades que atendem pelo SUS, todas fecham aos finais de semana em Maceió, sobrecarregando a uma única maternidade, deixando-a em uma situação considerada desesperadora pelo médico responsável pelo hospital como se houvesse dia e hora marcados para os partos. Quanto vale uma vida humana em Alagoas? O choro da enfermeira e da médica responde que a vida vale mais do às autoridades de saúde imaginam.

Quanto vale uma vida?  Como realizar parto seguro e nascimento seguros, através de práticas de atenção, se O CRM proibiu o parto em casa e ameaçou os médicos? Como ter atenção à saúde de crianças de zero a 24 meses com qualidade e resolutividade, se nem internação conseguem? Como a mulheres de Alagoas podem ter acesso ao planejamento reprodutivo, como prevê o projeto Brasil Cegonha, do Governo Federal, sem freqüentarem os hospitais do Estado?

Ou será que o programa Brasil Cegonha não tem por objetivo criar um novo modelo de atenção ao parto, nascimento e à saúde da criança, com uma rede de atenção que garanta o acesso, acolhimento e resolutividade, com a redução da mortalidade materna e neonatal? Como, em maternidades que as mães deitam no chão poderão ter um nascimentos seguros, com crescimentos e desenvolvimentos saudáveis de seus filhos?

Se esse é o propósito do Brasil Cegonha, não informaram dos seus objetivos aos operadores de saúde em Alagoas. Ou será que informaram, mas esqueceram de pedir que maternidades não fechem aos finais de semana? Ou será que as crianças terão dia e hora para nascer, simplesmente porque não poderão nascer aos sábados e domingos? Não seria melhor orientar aos pais quanto aos corretos dias para fazerem sexo?  Era só o que faltava!

Afinal, quanto vale uma vida? Os choros da enfermeira e da médica estão respondendo! Não precisa se falar mais nada!