“Comecemos por atacar as políticas sociais focalizadas na pobreza e a ideologia neoliberal que as sustenta voltando, também, os olhos inquiridores para os verdadeiros beneficiários da generosa assistência do Estado em meio à atual crise estrutural do capital: empresários e banqueiros que, ao menor sinal de prejuízo financeiro nos seus negócios, são prontamente socorridos com transferências de vultosas somas de dinheiro do povo, do qual a maioria é trabalhadora e certamente inclui os beneficiários do Bolsa Família”.
Essa frase consta em um documento dirigido a Assistentes Sociais, pela professora Potyara Pereira, mas merece uma profunda reflexão e discussão no seio da categoria.
Também, embasado em muitos teóricos, eu, como assistente social, jornalista e presidente por duas vezes da Comissão Estadual de Emprego, também entendo que “...os beneficiários do PBF preferem se acomodar como clientes passivos do benefício em dinheiro recebido (que, diga-se de passagem, não chega a um salário mínimo) do que se inserirem no mercado de trabalho formal”. Mas o valor é superior a acordar de madrugada, enfrentar um dia todo de trabalho, depois de mais de uma ou duas horas andando em ônibus superlotado, enfrentar o risco do desemprego temporal. Por quê? É melhor receber os benefícios do Programa Bolsa Família. Ele é certo, não possui riscos e é ofertado de “mão beijada” pelo Governo Federal!
Contra esse documento dirigido a Assistentes Sociais, pela professora Potyara Pereira, graduada em Serviço Social na turma de 1965, mestre e doutora em Sociologia pela Universidade de Brasília – 1976/87 e PHD em Política Social pela Universidade de Manchester/UK (91/92) e, ainda, graduada em Direito na turma de 1974, criticando a Rede Globo de Televisão, por exigir formalmente um direito que é de todos, o de acesso à informação, em documento divulgado aos profissionais Assistentes Sociais, tenho algumas ponderações, com todo o respeito à mestra, mas escrevo sobre a prática que vivi no dia-a-dia:
Discordo de parte do documento da emérita professora Potyara Pereira, comete um equívoco, sério e que merece mais atenção dos gestores das políticas públicas de inclusão social:
1. No Programa de Transferência de Renda do Brasil – o Bolsa Família (PBF) - realmente falta alguma coisa que determine ou oriente o direcionamento ao mercado de trabalho para que a qualificação das pessoas que recebem o Bolsa Família, pois sem qualquer critério nesse sentido, elas estão se beneficiando do Bolsa Família e de todos os outros que objetivam a transferência de renda, praticados pelo Governo, meritório e necessário, por certo, mas sem essa exigência que considero necessária.
A função da imprensa é divulgar a verdade.
Faltam mesmo profissionais qualificados no mercado de trabalho.
Também, discordo da professora Potyara Pereira, quando afirma “que não devamos ficar discutindo sobre a ponta do iceberg” mas “dar um mergulho mais fundo na problemática que contempla os programas de transferências de renda condicionadas da atualidade, para descobrirmos o que não é aparente, isto é, está submerso“.
E, nesse “mergulho mais fundo” que a professora Potyara Pereira propôs a todos os profissionais, me fez ver que existe excesso de emprego e falta de mão-de-obra qualificada para ocupá-las, tudo porque o problema não está nesse ângulo de visão e, sim, no fim de todas as Escolas Profissionalizantes que existiram há pouco e os jovens conseguiam emprego rápido, fácil e o mercado absorvia bem os técnicos formados em análise laboratorial, química, magistério, por exemplo.
Temos que discutir sim, professora Potyara, também, a ponta do iceberg, porque é nessa ponta que encontraremos a verdadeira raiz do problema principal, ou seja, é na parte submersa do “iceberg”professora - atualmente pesquisadora colaboradora da Universidade de Brasília, liderando o Grupo de Estudos Político-Sociais - POLITIZA, registrado no Diretório de Pesquisa do CNPq - que encontraremos a origem, a raiz de todo o problema da falta de mão-de-obra: o fim das Escolas Profissionalizantes!
Com meu mais profundo respeito e por ter lido vários livros seus, discordo da doutora quanto à acusação à Rede Globo, que está somente constatando uma realidade: excesso de ofertas de trabalho e falta de mão-de-obra qualificada em várias áreas, até em serviços domésticos. Ainda bem que a professora Potyara Pereira deixa claro que o programa de transferência de renda precisa de alguns ajustes e que ele não está imune às críticas, como de resto nada está.
Arrematando o documento dirigido aos profissionais da Assistência Social, a professa confirma que “nos últimos cinco anos, o governo brasileiro tem se esforçado para inserir os beneficiários do Bolsa Família no trabalho formal, especialmente nas obras da construção civil do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Mas, a realidade tem mostrado que tais beneficiários carecem de preparo básico (físico e profissional) até para o exercício de trabalhos aparentemente de baixa qualificação.”
Para mim, isso basta!