sábado, 28 de abril de 2012

COTA PARA NEGROS OU A FALÊNCIA DA EDUCAÇÃO?

Antes de aplaudir ou jogar pedra contra a decisão dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, entendo que eles, os Ministros, deveriam ter julgado primeiro a péssima qualidade do ensino nas escolas públicas, para depois fatiarem a sociedade brasileira em cotas. Mas só julgaram favorável à constitucionalidade da cota racial para ingresso nas faculdades.

Necessário se faz questionar se existe algum estudo científico provando que, com a miscigenação de raças no Brasil, ainda exista alguma possibilidade de ter o negro como uma raça inferior ou   alguma população de sangue totalmente negro residindo em nosso país? Essa decisão favorável às cotas, em nada fará melhorar a verdadeira causa de todos os problemas: a péssima qualidade do ensino no Brasil!

Não nego que a cota racial para negros corrigiu um erro histórico antigo existente desde quando a Princesa Izabel assinou a Lei Áurea em 13 de maio de 1888, libertando os escravos de um tipo de escravidão, principalmente praticada nas fazendas de café, mas não lhes forneceu documentos, moradias, terras ou qualquer outra condição para viverem dignamente, colocando-os em outro patamar de escravidão - a escravidão social, com a exclusão total do convívio  em sociedade.

Reconhecer à constitucionalidade das cotas, além de fatiar em pedaços nossa sociedade uniforme é, reconhecer também, que todos os negros não têm capacidade inferior e são intelectualmente desprovidos  de raciocínios lógicos. O caminho não é esse! A inclusão de todos dentro de uma escola é que seria o caminho mais adequado para resolver a questão dos negros, que ainda são discriminados pela sua pigmentação de pele devido ao excesso de melanina. Ser negro não é doença contagiosa.

Mas por esse mesmo prisma de análise social, dizer que os homossexuais em idade escolar que usam seios, mesmo que de silicones e se vestem com roupas femininas, também são excluídos, discriminados do convívio social - inclusive muitos são afastados  do convívio familiar e terminam se prostituindo nas ruas para sobreviver ou passam a trabalhar como cabeleireiros em salões de beleza, onde são aceitos – acabo acreditando que essas discriminações são pontuais e não sociais ou intelectuais.

A constitucionalidade apenas arruma um pouco a questão, mas não prova nada e o Ministro Joaquim Barbosa, de carreira brilhante, não pode e nem deve servir de parâmetro para um julgamento por ser negro porque ele, mesmo vindo de família pobre, nascido na cidade mineira de Paracatu e aos 16 anos ter viajado para Brasília, onde conseguiu seu primeiro emprego na gráfica do Correio Braziliense e tenho certeza que foi um aluno dedicado, brilhante e terminando, concluíndo seu segundo grau em colégio público.

Depois, com a mesma dedicação e estudos diários, bacharelou-se em Direito pela Universidade de Brasília, passou em concurso público para oficial da chancelaria do Ministério das Relações Exteriores, serviu na Finlândia. Voltou, prestou concurso para Procurador da República e foi estudar na França...Sua história de superação é brilhante, sem dúvida alguma!

Também convivo com juízes, médicos, promotores, professores negros e muitos sem pais ou pais ausentes, que trabalharam, estudaram em escolas públicas e entraram em faculdades públicas, cujas trajetórias exercem carreiras em suas áreas. Tudo isso não depende da cor da pele, mas apenas de uma educação de qualidade, comprometida e compromissada com a inclusão social das minorias, negros, brancos, índios, quilombolas, pardos, todos convivendo em um mesmo espaço harmônico, sem corrupção, desvios de verbas e outros atos ilícitos quase sempre que merecem a guarida da mesma Justiça, que agora referenda a constitucionalidade das cotas raciais universitárias.

Apresento-me como exemplo também, porque sou filho de pais semi-analfabetos funcionais, mas que, com muita dedicação e estudos em boas escolas públicas, conclui duas faculdades públicas, exerci as duas carreiras, lancei livros, inclusive dois de pesquisas na área social!

Ou será que o sistema educacional mudou assim tão rápido assim para pior que, agora, a pessoa de cor só pode entrar na faculdade se for pelo sistema de cotas raciais? Antes de julgarem cotas pela cor da pele, deveriam julgar cotas pela qualidade da educação oferecida a todos os brasileiros!