sábado, 21 de abril de 2012

OS SONHOS DE PENINHA E OS MEUS...!

“SONHOS” DE PENINHA E OS MEUS...!

Tudo era apenas/Uma brincadeira/E foi crescendo/Crescendo, me absorvendo/E de repente eu me vim assim/Completamente seu...”

A música “Sonhos”, de Aroldo Alves Sobrinho, o paulista mais conhecido por “Peninha”, incluída na trilha da telenovela "Sem Lenço, Sem Documento", exibida em 1977 pela Rede Globo, criou muitos outros sonhos, embalou os meus e fez sonhar também  milhares  corações apaixonados em Manaus, a partir de 1978, quando ficou um ano inteiro nas paradas de sucesso. Era uma verdadeira febre!

Em 1969, quando retornei a Manaus para estudar, gostava e achava lindo ligar a TV na casa de minha madrinha Natércia Januário Calado, onde morei, no Morro da Liberdade, e ficar sentado no sofá da sala esperando o aparelho mostrar a imagem e vendo, admirado, apenas aqueles pontinhos negros pulando, parecendo bonequinhos se mexendo. Ingênuo, o inocente garoto vindo do interior para estudar na capital, onde nascera não sabia nem o que era luz elétrica, quanto mais “TV” e “rádio”, coisas esquisitas que também falavam. Será que tinham um homem dentro deles? Ou será que havia alguém dentro da lâmpada para fazer com ela acendesse?

Para mim, aqueles pontinhos negros na TV, mais pareciam homenzinhos correndo atrás de uma bola, mas eu lá sabia o que era jogo de futebol, se nunca havia entrado em um campo e assistindo a uma partida?! Mas era tudo lógico na mais perfeita imaginação de uma criança de nove anos! Ah, que saudades de um passado que a geração de hoje não conhecerá porque nasceu na era da televisão de led, controle remoto, internet, celular...

A TV, em cores preto e branco, que eu aguardava que “abrisse” e mostrasse a imagem, ficava no alto de um móvel  em um canto da sala de entrada da casa, emoldurada por um teto forrado de madeira,  pintado em uma cor azul, com uma lâmpada PL envolta por um globo branco bem no seu centro.

Até o ano de 1978, a imagem só aparecia depois que aqueciam todas as válvulas, mas ficava sentado na sala, mesmo assim, esperando surgir a imagem, como se estivesse  hipnotizado, com  o símbolo de um índio que representava a “TV Ajuricaba” da família Hauache, porque sabia que o aparelho me mostraria as imagens dos cantores Peninha interpretando sua música “Sonhos e de Márcio Greick, com muitas canções de sucesso também,   embalando meus sonhos românticos com as primeiras namoradas de juventude, nos sábados à tarde, no programa do “Velho Guerreiro”, Abelardo Chacrinha Barbosa!

Como o “Peninha”, também “vi a minha força/amarrada no seu passo” e percebi que se não fosse ao lado de uma namorada de infância  também “não tem caminho e “não me acho”. Ah, como essa música levava à pensamentos agradáveis de meus sonhos adolescentes de namorador!

Durante a música, também me via passando “grude” com minha mãe em sacos de cimento dobrados ao avesso, colando-os a todos e, depois, saindo de madrugada para comercializá-los no mercado municipal Adolpho Lisboa, para quem comprasse peixes!  Também me via, anotando em cadernetas os centavos do óleo a granel, despejado em copos que as pessoas traziam de casa e apresentavam no balcão; e, ainda, retirando com uma colher de madeira grande, de dentro de uma lata de cinco quilos,  manteiga “Cabeça de Touro” e colocada-a em “papel manteiga”, embrulhando-a cuidadosamente e entregando-a ao freguês. Nessa época, as cadernetas recebiam as anotações dos valores e eram entregues ao devedor para pagamento no final do mês. Também via  colocando unidade de pão, enrolados em papel que ficava sob o balcão ou  colocando-o  dentro de sacos de papel; ou de panos, que os clientes traziam de casa, tudo no comércio que foi montado por meu pai para ajudar a sustentar a família de 10 filhos.  Vendiam-se  óleos em centavos e se comercializava ovo em unidade, naqueles  anos 70. Ah, que viagem de sonhos eu fazia ouvindo a música de Peninha!

Quando a música tocava nas rádios, eu dava um jeito de oferecê-la  para alguém que namorasse no momento porque como adolescente, em cada namoro também “vi um grande amor, gritar dentro de mim, como eu sonhei um dia... Mas ao saberem de minha realidade social me deixavam e só restavam dentro de mim a  saudade, tristeza e a certeza de mais um amor que se  tinha ido embora.Mas isso passava logo como tudo na vida passa; menos a certeza que caminhamos rumo à morte próxima ou distante não importa, porque Deus é quem comanda o destino!

“Quando o meu mundo/ era mais mundo/e todo mundo admitia” que eu estava diferente por estar amando, estudando e trabalhando, produzindo dentro de mim “uma mudança muito estranha” mexendo com a pobreza sempre com a mesma dignidade de quem vendia picolé, jornal, cascalho e vela em porta de cemitério para adquirir “mais pureza, mais carinho, mais calma, mais alegria no meu jeito de me dar...às pessoas o amor a Deus e as pessoas.

Só que quando essa mudança já se fazia “mais forte e mais sentida” e “quando a poesia” que escrevia para alguma namorada, já fazia “folia em minha vida” vinham me contar dessa paixão inesperada por outra pessoa...”  Novamente eu me abalava! Mas...

“Mas não tem revolta não/Eu só quero/Que você se encontre/Ter saudade até que é bom/É melhor que caminhar vazio/A esperança é um Dom/Que eu tenho em mim/Eu tenho sim/Não tem desespero não/Você me ensinou/Milhões de coisas” boas passei a ter, ainda,um sonho em minhas mãos/Amanhã será um novo dia/Certamente eu vou ser mais feliz...”

Com duas faculdades concluídas, cronista, livros científicos e de crônicas publicadas, prêmios recebidos, indicado ao prêmio Jabuti de 1988, casado, fui e continuo sendo feliz à companhia de minha esposa Yara Queiroz, advogada, guerreira, amiga e companheira, que esteve a meu lado na saúde e continua  na doença, quando fiquei só  um pouco mais chato  porque sofri sequelas irrecuperáveis na  área de meu humor, depois das onze cirurgias no cérebro!

Apesar de tudo que passei e ainda continuo sofrendo permaneço amando muito minha vida!