quarta-feira, 11 de abril de 2012

"OS ÓRFÃOS DO ARMANDO!"


Quem primeiro usou essa frase título em uma emocionante e comovente matéria de jornal foi o companheiro jornalista Mário Adolfo, mas ele, com certeza, não se importará se reutilizá-la em minha crônica de novo!

É por uma causa nobre que o farei porque agora todos os que te conheceram, Armando, e conviveram contigo e freqüentavam teu bar mesmo que esporadicamente como eu, ficaram órfãos mesmo com a tua morte!

Ah, Armando, que viestes da “terrinha”, por que fostes morrer logo agora, vítima de falência de todos os órgãos. Vais deixar muitas saudades!?

Armando Dias Soares, de 77 anos, o dono de um dos bares mais famosos e irreverentes de Manaus deixou os frequentadores órfãos mesmo!

O português estava internando no Hospital Beneficente Portuguesa desde janeiro por conta de um abscesso no pulmão e foi vítima de falência múltipla de órgãos nessa terça-feira, dia 10.  O corpo fora velado horário da tarde na Funerária Almir Neves, na Rua Monsenhor Coutinho, 510, no centro e  está sepultado. 

Armando, ainda bem que tu vivestes tempo suficiente para ver o sucesso da Banda Independente da Confraria do Armando, ou simplesmente “A Banda da Bica”, iniciada há mais de 20 anos como uma forma de protesto de jornalistas liderados pelo companheiro “Deco”(Deocleciano Bentes Souza), contra a opressão, mas continua existindo até os dias de hoje.

Armando, por que fostes morrer logo agora para deixar saudades em tantos poetas, escritores, cronistas como eu, pintores, jornalistas, advogados, juízes e em alguns desembargadores que também te admiravam pela calma que tinhas, postura firme que demonstravas, permitindo que teus clientes fossem pegar cerveja gelada no freezer e depois pedissem para pagar a despesa, quando, perguntavas quantas  haviam tomado, fazias “as contas de cabeça” e  apresentavas o valor. Todos pagavam, não discutiam e iam embora!

Não que desejasse que fosses mumificado, mas pensando bem, até que não seria uma má idéia revê-lo de novo, sempre com seu famoso lápis atrás da orelha “para fazer contas de cabeça” como diziam muitos frequentadores, explicando a tua mania!

Por que meu caro Armando, não driblastes a morte só mais essa vez, como Deus me permite fazê-lo há sete anos, desde que fui infectado por duas bactérias consideradas incuráveis para a medicina, mas não para Deus, adquiridas dentro de um hospital em Manaus, após cirurgia. O Pai Celestial te receberá de braços aberto, Armando!

Por que não esperastes para o companheiro Mário Adolfo escrever mais uma vez a linda reportagem “Os órfãos do Armando”, com uma magnífica foto feita à frente de teu bar, mostrando mesas na calçada e o pessoal bebendo...Tudo porque decidistes tirar umas férias e voltar para Portugal. Por que não tirastes férias de novo, hein, Armando?
Talvez o amigo tenha tido notícias de que, saindo da Banda da Bica, nos anos 80, a irreverente Leila Matos subira em uma carroceria de caçamba e desfilara totalmente nua, descendo pela Avenida Getúlio Vargas até o Hotel Amazonas, para desfilar na banda do também famoso Mandy’s Bar, com os “paparazzi” de vários jornais de Manaus, correndo atrás do carro para fotografá-la.   

O que talvez não saibas até hoje, é que um dia qualquer, do ano de 1982, estive em teu bar, pedi uma cerveja para aguardar um amigo, quando, no lado de fora, em uma janela, o artista “Palheta” desenhava minha caricatura e colocava no cantinho o seu famoso e tradicional gato, com uma interrogação dentro de um balão. Caricatura ficou tão perfeita que a coloquei em moldura e decidi pendurá-la em minha parede na sala!

Ah, tantas coisas gostosas vivi e presenciei ao lado de minha esposa Yara e do amigo Luiz Eron, com gelo e garrafa de wisky, na Banda da Bica! Ah, como era gostoso freqüentar o teu bar em meio ao burburinho de vozes que pareciam mais uma Torre de Babel!

Certa vez, um “quartel general” fora formado na casa ao lado de teu bar, com a presença de advogados, oficiais de justiça, juízes e promotores prontos para cassar um “habeas curpus” que seria assinado por um desembargador, proibindo a irreverente e satírica música composta por vários parceiros, dentre eles o genial Américo “Madrugada”, tudo em nome de uma folia monesca que não pode e nem deve parar. Órfãos sim, todos estamos!

Mas, descanse em paz, Armando, porque aturastes muitos bêbados chatos em teu bar, por muitos anos! Terás todo esse direito porque tu viraste patrimônio, referência, e a identidade de Manaus! Manaus continuará existindo sem o Armando, mas jamais será a mesma!